Recebemos
no nosso mail um testemunho de uma pessoa enganada por uma empresa
fraudulenta que se aproveita da fragilidade do desemprego para conseguir
arranjar trabalho grátis. Segue o testemunho na íntegra:
Car@s Precári@s,
Contacto-vos porque, no início
deste ano, ao procurar um emprego em part-time para conciliar com a
faculdade, acabei por ser vítima de uma suposta empresa de marketing que
chegara a Portugal em Agosto de 2010 e se encontrava (e encontra) a
recrutar colaboradores.
Ficam, ainda, muitos pormenores
escabrosos por relatar, pois a lista é quase infinita. Gostaria apenas,
por enquanto, de alertar tod@s @s jovens que se encontram à procura de
emprego para que não caiam nesse esquema. Eles têm anúncios em sites de
emprego legítimos, e ao que parece, mudam o nome e a localização dos
escritórios com alguma frequência, portanto é possível que se venham a
deparar com a mesma empresa sob outro nome. De momento, o nome AXES
MARKET continua a constar nos anúncios.
O que aconteceu, resumidamente, foi o seguinte:
Enviei
o meu currículo através do site "Empregos Online" e fui contactada no
dia seguinte para marcação de entrevista. Perguntei a quem me deveria
dirigir quando chegasse ao local e informaram-me de que só teria que
dizer que vinha para entrevista, pois esta seria realizada pelo
director. Solicitaram-me, ainda, que levasse uma cópia do meu currículo.
No dia seguinte, dirigi-me ao
6ºesquerdo da Rua Rodrigues Sampaio nº 30, onde fui entrevistada, em
inglês, por um norte-americano (o director) que falou muito rapidamente
acerca da função a desempenhar e me disse que, entre os cerca de trinta
entrevistados naquele dia, menos de dez seriam contactados para a
segunda fase de selecção.
No final do dia, a empresa
entrou em contacto comigo para informar que tinha sido uma das
escolhidas, e que deveria comparecer no dia seguinte às 12h30, vestida
profissionalmente mas com sapatos confortáveis, pois iria acompanhar um
colaborador ao longo do dia de trabalho. Pediram-me, ainda, que
confirmasse a minha disponibilidade entre as 12h30 e as 20h, visto ser
este o tempo que deveria permanecer com o colaborador em questão.
No dia seginte, fui então para o
"terreno" com aquele que viria a ser o meu "leader" e mais dois
colegas. O primeiro começou por fazer-me perguntas básicas: a minha
experiência profissional, os meus objectivos, etc. Quando lhe disse que
já tinha tido alguns empregos de Verão em lojas e que gostava do
contacto com o público, ele respondeu: "Pois, mas vendedor qualquer
idiota pode ser. Nós estamos a recrutar líderes, e a fase das vendas
directas não é determinante, é apenas parte do processo.". Eu não me
recordava de me ter candidatado a chefe de equipa uma vez que, como já
referi, sou estudante e estava apenas à procura de um part-time - mas
enfim, se encontrasse algo melhor que um call center não me faria
rogada. Posteriormente, fui bombardeada por uma série de questões e
informações acerca da área das vendas directas (porta-a-porta),
enquanto, literalmente, corria atrás do tal líder. Tive ainda que
responder a um questionário sobre os meus pontos fortes e fracos (10 de
cada), bem como mencionar 15 características de um bom líder. Para além
disso, foi-me pedido que respondesse a 3 adivinhas e que dissesse como
imaginava a minha vida em 1, 5 e 10 anos. Tudo isto enquanto subia e
descia escadas.
Á hora de almoço, o "líder" fez
numa folha do meu caderno um esquema da progressão dentro da empresa e
das remunerações, sendo que, na fase inicial, um colaborador receberia
entre 250 a 300€ por semana, passando depois a 500 e assim
sucessivamente. O horário de trabalho seria de segunda a sexta, entre as
11 e as 21h, sendo, no entanto, totalmente flexível para
trabalhadores-estudantes.
Às 22 horas desse mesmo dia,
completamente encharcada e cheia de feridas nos pés, caminhei com o
líder até à estação do metro, onde este me disse que eu parecia ser uma
pessoa empenhada e com muita força de vontade, mas não era
extraordinária em nada e, assim sendo, ele não sabia se devia ou não
recomendar-me ao director. Pediu-me que lhe dissesse o que tinha, então,
de especial para ser escolhida entre os 5 que tinham passado à esta
fase, pois só iriam ficar com uma pessoa - ou nenhuma, se não houvesse
um candidato realmente à altura. Pressionou-me até eu responder que não
sabia mais o que me distinguia dos outros e que, embora gostasse de
ficar com o emprego, não teria qualquer problema se não fosse
seleccionada, uma vez que respondera a diversas ofertas.
No final, fui novamente ao
gabinete do director onde, surpreendentemente, este me deu os parabéns
por ter sido seleccionada e que deveria começar no dia seguinte.
No dia seguinte, houve um
"Opportunity Meeting" com o director, onde nos foi feita uma lavagem
cerebral, cujo objectivo era fazer-nos crer que ganharíamos um bom
ordenado ao mesmo tempo que progredíamos na carreira, e tudo isso
dependeria apenas da nossa dedicação. Essa dedicação, como vim a
verificar nas 3 semanas em que estive na empresa, consistia em trabalhar
DOZE HORAS POR DIA, 6 DIAS POR SEMANA, recebendo apenas uma comissão de
20 ou 30€ por venda - e, como é óbvio, nem sempre se vendia,
principalmente porque nos enviavam para a mesma zona de dois em dois
dias. As despesas de deslocação e alimentação eram por nossa conta pois,
teoricamente, éramos trabalhadores independentes.
Dada a dificuldade de encontrar
na internet qualquer informação relevante acerca da empresa (que tem,
pelo menos, três nomes) optei por pesquisar o nome do director e as
minhas suspeitas confirmaram-se: a empresa não passa de um esquema para
encher os bolsos de quem está no topo, não tanto através das vendas, mas
sobretudo do recrutamento de "distribuidores" (nas três semanas em que
lá trabalhei, entraram pelo menos vinte novas pessoas), que serão,
também eles iludidos pela promessa de crescimento profissional e sugados
por charlatães que tentam a todo o custo afastar-nos da realidade e que
nos querem fazer crer que somos uns preguiçosos se o dia de trabalho
não nos corre bem – mesmo depois de termos passado o dia inteiro à
chuva, a bater a portas e a ouvir reclamações.
Eu saí da empresa a um mês
depois e até hoje não recebi um cêntimo pelas vendas que fiz. Recusei
diversas entrevistas de emprego por achar que estava a trabalhar numa
empresa a sério, e agora continuo sem trabalho – e com receio de voltar a
deparar-me com uma situação semelhante.
Ficam, ainda, muitos pormenores
escabrosos por relatar, pois a lista é quase infinita. Gostaria apenas,
por enquanto, de alertar tod@s @s jovens que se encontram à procura de
emprego para que não caiam nesse esquema. Eles têm anúncios em sites de
emprego legítimos, e ao que parece, mudam o nome e a localização dos
escritórios com alguma frequência, portanto é possível que se venham a
deparar com a mesma empresa sob outro nome. De momento, o nome AXES
MARKET continua a constar nos anúncios.
Grata pela atenção.